No Tocantins: Dado inédito do IBGE mostra 1% da população diagnosticada com Autismo(TEA)

Quase 15 mil pessoas já foram diagnosticadas com TEA no estado, revela Censo 2022; psicóloga explica detalhes da condição neurológica e governo do Tocantins tem projeto de Centro Especializado no Transtorno do Espectro Autista em curso.

Pela primeira vez na história, o Censo Demográfico 2022 trouxe dados oficiais sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil. No Tocantins, 14.743 pessoas relataram diagnóstico de TEA feito por profissional de saúde, número que representa quase 1% da população do estado, estimada em 1.511.460 habitantes. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira, 23, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A maior parte dos diagnósticos no Tocantins é entre homens: 8.991 contra 5.743 mulheres. A diferença acompanha o cenário nacional, onde a prevalência do TEA é maior entre o sexo masculino (1,5% dos homens, contra 0,9% das mulheres). As faixas etárias com mais registros de diagnóstico no estado são as de 5 a 9 anos (2.115 casos), 0 a 4 anos (1.744), 10 a 14 anos (1.614), 15 a 19 anos (1.193) e até adultos entre 40 e 44 anos (1.025), o que mostra que o diagnóstico não se limita à infância.

Em todo o país, 2,4 milhões de pessoas relataram ter recebido diagnóstico de TEA, o equivalente a 1,2% da população brasileira. O grupo com maior concentração de casos é o de 5 a 9 anos, com taxa de 2,6%.

Diagnóstico é só o começo

O dado é inédito, relevante e necessário. Mas expõe também um gargalo antigo: o diagnóstico está avançando, enquanto o atendimento especializado continua travado em estruturas públicas limitadas. No Tocantins, o desafio é ainda maior. Famílias com crianças autistas enfrentam filas, demora, escassez de profissionais e serviços limitados, sobretudo fora da capital.

“O Transtorno do Espectro Autista é uma condição neurológica, não é uma doença e, portanto, não tem cura. Mas exige acompanhamento contínuo e multiprofissional, porque pode afetar diretamente a qualidade de vida da pessoa diagnosticada e de sua família”, explica a psicóloga Mariana Ribeiro Pereira, de 28 anos. Ela destaca que cada caso exige um plano de cuidado específico. “O indicado é um diagnóstico a partir dos 18 meses de vida, porque quanto mais cedo se identifica o TEA, maiores são as chances de intervenções eficazes e ganho em qualidade de vida”, relata.

Segundo a psicóloga, o crescimento nos diagnósticos se deve, entre outros fatores, à ampliação da discussão sobre o autismo e à maior busca por avaliações. Mas ela faz um alerta: “O número de profissionais especializados ainda é insuficiente. Além disso, tem muito profissional sem preparo oferecendo avaliação, o que aumenta a chance de diagnósticos errados”, comenta.

Mariana também lembra que o diagnóstico em adultos tem seu valor: “Mesmo tardiamente, o diagnóstico ajuda a entender comportamentos, a buscar suporte e a cuidar da saúde mental. Muitos adultos no espectro lidam com depressão, ansiedade e fobias sociais”, explica.

Iniciativa estadual: promessa de centro especializado

Em abril, o governo do Tocantins anunciou a criação do Centro Especializado no Transtorno do Espectro Autista (Cetea), em Palmas. O projeto, que prevê investimento inicial de R$ 13 milhões, será implementado com recursos da Secretaria de Estado da Saúde (SES/TO), em parceria com o Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano (INDSH), com prazo de até 90 dias para entrar em funcionamento.

A proposta é oferecer atendimento multidisciplinar especializado, com profissionais treinados e estrutura adequada. “Este espaço será composto por profissionais qualificados e com ferramentas adequadas para identificar e oferecer o tratamento adequado”, afirmou o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), durante o 2º Encontro de Pais de Autistas do Tocantins.

Rosa Helena Ambrósio, superintendente da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência da SES/TO e fundadora da Associação Anjo Azul, destacou que a implantação do Cetea é fruto de anos de luta. “É um passo importante para proporcionar cuidados especializados às pessoas com TEA, que agora terão acesso a serviços qualificados e acompanhamento integral”, disse na época.

Fonte:

Jornal Opção

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